terça-feira, 10 de maio de 2011


De repente, tudo estava bem - de uma forma assustadora e bizarra. Os gritos dos vizinhos já não me irritavam, meu problema com a sociedade deixou de existir, até meu cabelo parou de me enlouquecer. Deixei de sentir raiva das pessoas, deixei perder a paciência com coisas tão banais, e também já não me irritava com o riso histérico daquela perua que sempre encontro por acaso na padaria quase todos os dias. Passei a levantar todos os dias com aquele sorriso monótono no rosto, que contrastava com meus olhos chorões que imploravam por novidade. Dias atrás, até consegui escutar o cara que tenta se fazer de engraçado do jornal, dizendo “Mais um dia sem nada que pode ser riscado do calendário”. Pensei em começar a fazer boxe, pintura, yoga… Qualquer coisa que torne meu dia menos chato. E foi então que entendi, tudo isso aconteceu porque você estava longe. Cheguei a discar seu número várias vezes, apenas para te lembrar de voltar, mas desistia antes da chamada terminar. Porque sem você, meus dias são incompletos, não tem emoção. Os dias ficam tão vazios, que preciso me equilibrar para não cair de cara no chão, porque você não estará lá para me segurar. Preciso que retorne, para ser preenchida por tudo que é você, e conseguir me ser de novo. Saber disso me aliviou, mostrou que não estava doente, no meio de uma crise de identidade ou entrando em uma fase completamente estranha. Era só saudade, e ela iria acabar. Com um sorriso, pensei que você é tão eu, que em sua ausência não consigo ser ninguém. E tudo voltou a fazer sentido. 

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