sexta-feira, 9 de dezembro de 2011


E nessa desarmonia de solidão desenfreada corro em direção do tempo para ver se me fogem os amores que tive. A vida anda obsoleta demais e para os que sentem o despertar das flores e o chorar no canto do passarinho fica ainda mais difícil dormir; porque o sono não vem. Fica ainda mais triste ver sorrisos e mais dramático ainda discorrer sobre coisas que sentimos e choramos por sentir. A vida anda triste e da tristeza que vem sem pedir licença, que é altruísta, que mata e afoga, que sorri, que ama. E ultimamente não se é preciso muita coisa para vê-la; basta olhar à cigana que, andarilha como é, espalha soluços no plantar das sementes, é só ir à rua num dia frio e perceber o quão as pessoas são vazias de si e vazias dos outros; andam com pressa, com tangência, com melancolia. E é ruim quando penso na tristeza e na vida; assim: mútuas, recíprocas, uma com a outra, porque tristeza não fica bem com vida… digo, não fica “bem”. Mas para os que sentem… Ah! Para os que sentem a beleza está na moça da padaria que, apesar de alijada, continua a sorrir pra vida, eles veem beleza na morte abrupta da flor que mal nasceu e já morre; padece… eles necessitam da lágrima, da monotonia constante. Precisam do travesseiro aguado, da canção de bolero, da sorrateira solidão. A vida anda cansada demais e estar cansado, hoje, é sinônimo de palidez humana, esfriamento dos sentimentos, dos dias que outrora eram de verão. A vida cansada é a poesia que já não se consome, se deixa consumir. O que era fogo virou fechamento de olhos em meio à noite enternecida porém densa, bem densa. A chuva bate mais forte, a música entra mas sai, o caminhar fica trilhado simetricamente e a rotina faz de nós escravos. Mas para os que sentem… ah, para os que sentem a vida raia às cinco e meia da manhã; quando as flores ainda cochilam para ficarem mais alvas logo cedo pela manhã. Eles sentem os espinhos do caminho que terão de andar e respiram aliviados dizendo: ” Mais um dia sendo Flor, mais um dia sendo amor, mais um dia sendo Dor”. Mais um dia de tristeza, de solidão e monotonia se inicia aqui, para eles, os que sentem.

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