sexta-feira, 9 de dezembro de 2011


– Olá?
– Oi.
– O que você faz nessa esquina, uma hora dessas?
– Sentada na calçada, não vê?
– Vejo, mas não entendo o porquê.
– Ótimo.
– Ótimo?
– Não era para você entender, mesmo; aliás, nem lhe conheço.
– Você não deveria andar por essas bandas, principalmente nesse escuro.
– Por que não?
– É perigoso, todo mundo sabe.
– Não tenho nada a perder.
– Não? Tem a vida.
– Não me custa. Minha vida é barata.
– Quanto vale?
– Duas doses de whisky e um pouco de silêncio.
– Lhe pago as doses, mas o silêncio não é garantido.
– Gosto de aproveitar o silêncio sozinha.
– Tudo bem, aceita as doses?
– Fica para outro dia, tenho que dobrar a esquina. Está amanhecendo.
– Você é uma menina da noite, então?
– Você pode nomear assim, apenas não gosto de rondar por aqui de dia. É meio… lotado.
– Não gosta da multidão?
– Não gosto das pessoas.
– Posso saber o motivo?
– Elas podem me ver.
– E isso é ruim, por quê?
– Meus olhos estão… Borrados. Sem vida.
– É só limpar, eles ficam alegres novamente.
– E o que eu faço comigo? Limpar não resolve.


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