sábado, 17 de dezembro de 2011


Sentei-me sobre o parapeito da janela e fiquei olhando os carros passando na rua, e os pequenos pontos passando pela calçada. Essa vida urbana me matava lentamente, assim como o cigarro que estava em meus dedos. Desde maio, comecei a fumar e a beber como se fosse à única saída dos problemas. Estava me acabando aos poucos. Passou-se o inverno, outono e a primavera e eu ainda me encontrava aqui, acabada, com uma cicatriz entreaberta no peito. Desde que me mudei para esse pequeno apartamento em Londres, muitas coisas mudaram, muitas coisas se passaram na minha vida e no meu coração, ou o que restou dele. Toda a tarde me debruçava sobre esse parapeito, e observava as pequenas tiras em meus pulsos, sentindo, por cada cicatriz, uma dor diferente. Saudade, amor, tristeza, depressão, tudo se misturava dentro de mim, a bagunça vinha da minha mente, e parecia que não era só dentro de mim. Dei a última tragada em meu cigarro e então entrei, para fazer a única coisa que realmente me satisfazia: Escrever. — Isso foi à única coisa que restou da antiga-eu, a paixão pela escrita, pois todo o resto que eu costumava ser foi-se, foi-se junto com as lágrimas e as gotas de sangue que me obriguei a deixar no passado. — A cada linha que eu escrevia, uma lagrima deixava seu posto em meus olhos, não sabia o porquê, mas algo me fazia chorar mais do que aqueles filmes “água com açúcar”. Eu era uma boba, mas mesmo com cada lagrima rolando, conseguia escrever. “O amor dura, mas também fere. A dor é insuportável, mas com o tempo, seus vícios e suas manias fazem se esquecer do porque e do pra que da dor. Essa pequena dor te deixa, deixa-te mais forte, é mais forte, mais consciente, e te ajuda a suportar cada desafio. A cada tapa que a vida dá em seu rosto, é uma forma de mostrar o quanto ela sabe que você é forte, mas nem sempre você consegue suportar. A cada corte nos meus pulsos, deixou uma cicatriz irreversível em minha mente. A cada fibra do meu ser que foi cortada, me traz uma lembrança, por pior que seja, eu à bloqueio. Sabe porque? A dor é insuportável, talvez devesse beber um café, amargo e quente. Talvez adoce minha vida e a esquente, ela anda congelada, e sem sabor. Escrevo esse pequeno texto com lagrimas em meus olhos. Não sei o por que de estar chorando, mas talvez a dor seja tão forte, que transborde por meus olhos." Acordei daqueles pensamentos, sequei minhas lágrimas e calcei meu sapato. Hora de começar a rotina. Desci as escadas, pois não queria esperar o elevador, muito menos sentir os olhares curiosos secando em minha pele. Para eles, eu era uma pobre ordinária. Fui andando até a cafeteria, que era próxima ao meu prédio, apenas algumas quadras dali. Por ironia do destino. — ou não. — O encontrei logo na primeira esquina que virei, estava com o seu velho all star e seu casaco marrom, exatamente igual de quando estudávamos juntos. Preferia fingir que não o havia visto, mas meus olhos não respeitavam meu comando. Logo o vi correndo até mim. Coração disparado, eu não sabia o que aconteceria dali pra frente.

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